Nós, técnicos e analíticos, enxergamos o mundo de forma direta: preto ou branco. Para nós, não existe “meio cheio” ou “meio vazio” — o copo está cheio ou está vazio, ponto. Isso não tem a ver com inflexibilidade, mas com a nossa abordagem prática. Gostamos de simplificar as coisas, porque acreditamos que os problemas, na maioria das vezes, têm soluções objetivas e diretas. É um jeito de pensar que busca eficiência e clareza, sem complicações desnecessárias.
No passado, eu era extremamente perfeccionista, técnico e analítico. Na minha cabeça, problemas técnicos tinham que ser resolvidos de forma técnica, certo? Era assim que eu pensava. Coitados dos meus colegas de trabalho, que precisavam lidar com as minhas manias — juro que não era por mal! Mas, com o tempo, alguns fios de cabelo branco e umas rugas no rosto, aprendi que nem sempre problemas técnicos são resolvidos apenas com soluções técnicas.
Em projetos de pequeno porte, é bem provável que uma solução técnica resolva o problema de forma direta. Isso porque esses projetos envolvem menos pessoas, e o cliente — aquele que assina o cheque — muitas vezes acumula os papéis de Product Owner, responsável financeiro e outras funções. Essa estrutura enxuta deixa o foco e os objetivos muito mais claros. No final das contas, o objetivo do cliente é simples: fazer o produto gerar lucro. Sem complicações.
Já em projetos de médio e grande porte, essa lógica não se aplica tão bem. A estrutura nesses casos é muito mais complexa. Com muito mais pessoas, dinheiro e interesses envolvidos. Quem contrata o projeto geralmente não é quem lida com ele no dia a dia. Muitas vezes, o Product Owner (P.O.) nem acredita no projeto; ele está ali porque a empresa o designou e ele precisa atingir suas metas.
Perceba que, nesse cenário, o foco dele não é necessariamente o sucesso do produto. O objetivo pode ser outro: garantir o bônus pessoal no final do ano. E, para complicar, esse bônus nem sempre está ligado ao resultado ou sucesso do produto, mas apenas à sua entrega, independentemente de sua eficácia ou impacto real.
É aí que nós, técnicos — desenvolvedores, DevOps, QAs, etc. — muitas vezes erramos ao não compreender essas nuances. Em projetos de médio e grande porte, focar apenas no fator técnico é um erro que pode nos custar noites de sono e muitas horas desperdiçadas tentando resolver problemas que poderiam ser evitados se prestássemos mais atenção no cenário além das questões técnicas. Acredite: em projetos grandes, os problemas técnicos geralmente são os menores.
Isso vale tanto para os profissionais mais novos quanto para os mais experientes. Projetos de grande porte exigem que os técnicos entendam o contexto e a “politicagem” que naturalmente fazem parte desse tipo de ambiente. Gostemos ou não, essas questões acabam impactando todos os envolvidos ao longo do ciclo de desenvolvimento.
Líderes de verdade protegem seus times, mas isso não significa isolá-los do que está acontecendo. Pelo contrário, blindar o time significa ajudá-lo a compreender o contexto, lidar com pressões, políticas e outros fatores externos que impactam o projeto. Preparar a equipe para enfrentar esses desafios é tão importante quanto resolver questões técnicas.
Por isso, é papel do líder envolver seus liderados em tarefas além do aspecto técnico, como participar de conversas com clientes ou tomar decisões de menor impacto. Isso permite que, com o tempo, esses profissionais cresçam dentro do projeto e se tornem ainda melhores. Afinal, como diz a literatura: “Líderes de verdade formam outros líderes!”
Para os profissionais que insistem em focar apenas no técnico, sinto informar: vocês correm o risco de ficarem estagnados e obsoletos. Sim, é uma escolha, sem dúvida. Mas, em um mercado tão dinâmico, competitivo e em constante evolução como o nosso, limitar-se às questões técnicas é um erro grave. Aprender a lidar com pessoas e com aspectos além da esfera técnica não é apenas desejável — é essencial. Isso é algo que nós, com perfil mais técnico, precisamos abraçar para continuar relevantes e crescer como profissionais.
Evoluir exige coragem para dar o próximo passo, sair da zona de conforto e colocar a pele em jogo. Não se acomode, desafie-se e continue evoluindo!